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Gripe aviária: a nova geopolítica dos riscos ambientais

  • Foto do escritor: Fabíola Dias
    Fabíola Dias
  • 19 de mai.
  • 3 min de leitura

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O Brasil destaca-se como um dos principais fornecedores mundiais de proteína animal. Lidera a exportação de carne bovina e ocupa o segundo lugar como exportador de carne de frango. Embora essa posição de destaque no mercado global traga vantagens econômicas significativas, ela também coloca o país diante de potenciais ameaças ambientais e sanitárias, entre elas os surtos de influenza aviária.


Os grandes produtores nacionais de frangos e ovos adotam protocolos extremamente rígidos de controle sanitário, exatamente para evitar a contaminação ou disseminação de doenças. Todos que trabalham com segurança sabem que não há sistema absolutamente infalível, seja ele qual for. Falhas ou situações imprevistas podem ocorrer, independentemente da robustez do modelo adotado. Por isso, é essencial contar com planos de contingência bem estruturados e executados com rigor.


No caso da produção de proteínas animais, os compradores internacionais são exigentes em relação aos protocolos de segurança sanitária. E o Brasil tem ambos – protocolos rígidos de segurança e planos de contingência. Isso tem permitido rastrear para onde foram enviados os produtos da granja com foco de gripe aviária e qual destinação deve ser dada à carne e ovos.


O processo para iniciar exportações de produtos de origem animal do Brasil a um novo mercado pode ser demorado, já que exige a aprovação das autoridades sanitárias do país importador. Isso geralmente envolve a realização de auditorias e inspeções presenciais nas plantas brasileiras, para que se comprove o atendimento aos padrões sanitários exigidos por esses parceiros comerciais. Por isso, há um monitoramento constante de possíveis focos de doença.


Histórico da doença

Anteriormente, o vírus da influenza aviária havia sido detectado somente em aves silvestres no país. Uma possibilidade é que aves de granja entraram em contato direto com aves migratórias por meio de fezes ou pela água. O contato direto é difícil, pois os ambientes dos grandes produtores tendem a ser muito controlados.


Espécies migratórias, sobretudo aves aquáticas, como patos e gansos, podem atuar como hospedeiros naturais do vírus da gripe aviária. Mesmo sem manifestar sinais da doença, podem levar o vírus por grandes distâncias, facilitando sua dispersão em novas áreas.


Doenças que antes permaneciam em ambientes silvestres agora ocorrem em cidades e campos. As barreiras ecológicas que as mantinham distantes dos aglomerados humanos têm sido sistematicamente suprimidas com o desmatamento. A febre amarela é talvez o maior exemplo por ocorrer há mais tempo em ambiente urbano.


Mas há outras arboviroses, como a dengue, zika e chikungunya. Todas elas são virais e transmitidas principalmente por mosquitos que antes estavam restritos às áreas florestais. Com o desmatamento aproximando as áreas urbanas de trechos remanescentes de mata nativa, os mosquitos transmissores encontraram um novo habitat nas cidades. São doenças que perderam suas fronteiras naturais.


O mesmo pode acontecer com doenças das aves silvestres, muitas delas migratórias e com a ajuda de um hospedeiro por vezes assintomático. Doenças antes limitadas a certas regiões já se espalham para outros continentes. Como os ambientes plenamente silvestres são escassos em alguns estados, esses hospedeiros acabam parando no que resta de florestas no entorno de áreas produtoras de proteína ou núcleos urbanos.


O avanço das zoonoses e a expansão de vírus como o da gripe aviária evidenciam que produção agropecuária e conservação ambiental não são temas dissociados. Pelo contrário: preservar ecossistemas e restabelecer corredores ecológicos são ações estratégicas também para a segurança sanitária do setor produtivo.


O Brasil já conta com protocolos rigorosos no manejo de proteína animal, mas pode ir além — fortalecendo a restauração florestal e o ordenamento do território como parte de uma política de saúde integrada. Afinal, garantir a estabilidade das exportações passa também por proteger os limites naturais entre a fauna silvestre e os sistemas produtivos.


Fonte: CNN

 
 
 

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